
1º Encontro Latinoamericano de Defensoras Ambientais pela Ação Climática (2022)
Nos dias 3 e 4 de novembro foi realizado em Buenos Aires o 1° Encontro Latinoamericano de Defensoras Ambientais para a Ação Climática. Foi organizado pela Fundación Plurales, Colectivo CASA e Tierra Viva, e contou com a participação de mais de 40 mulheres representantes de 30 organizações de Defensoras Ambientais da Argentina, Bolívia, Brasil, Equador, Paraguai, Guatemala, Honduras, Nicarágua, México e El Salvador.
Durante dois dias nos tejimos na luta. Desde uma cerimônia pedi permissão à Pachamama para iniciar o evento, até nos encontrarmos pessoalmente e podermos dar-nos o abraço que nos debíamos depois de anos de virtualidade e pandemia, o Encontro Todo de Todo. O objetivo de que nossos propósitos se cumprissem com crescimentos. Impulsamos alianças entre as organizações para levar ações coletivas complementares na defesa dos territórios, compartilhamos estratégias de incidência, visibilidade e fortalecimento dessas iniciativas pela justiça de gênero e justiça climática. Mas principalmente, nos vimos cara a cara, nos conhecemos e nos abrazamos sem intermediários.
Aqui estão as partilhas, através das vozes das mulheres que participaram, algo do que foi este encontro.
As Huellas do Encontro em Nós
“O que eu deixei no Encontro foi uma oportunidade maravilhosa de compartilhar e saber que as necessidades de nossa comunidade também eram as mesmas necessidades da América Latina. Que hoje persiste uma brecha de gênero na propriedade da terra e que a pesar disso, as mulheres rurais têm o reconhecimento e esse papel que está bem enraizado, porque é decisivo no desenvolvimento da soberania alimentar e na erradicação da pobreza. Tudo isso sem mudar esse ecossistema onde tuvimos a fortuna de cada uma das mulheres latino-americanas, de nascer para defendê-la, cuidarla, protegê-la e também para ir regenerando, cuidando daquelas heranças que vão fazendo o Estado e as companhias. Esa fortaleza me dejaron mis hermanas latinoamericanas para seguir neste caminho”, contou Marisol Angulo, integrante da Red Ecuatoriana de Forestería Análoga (REFA).
Por sua parte, Lesbia Pérez, que representa o Conselho de Mulheres da Associação de Florestas Comunitárias da Guatemala Utz Che’, detalha que “foi bastante boa a experiência que nos dejó o intercâmbio. Conhecer temas tão importantes que às vezes desconocemos. Conheça as experiências de nós, como mulheres, e coloque-nos nos sapatos das outras companheiras. Outro que me deixei vir e replicar com as companheiras e contar nossas experiências, porque somos diferentes de país para país, de território para território”.
Adela Guerrero, integrante da Associação Nochari da Nicarágua, destaca que o Encontro foi “um espaço de muito intercâmbio, aprendizagem, conexão entre nós, as mulheres, com a madre tierra”, onde pudemos compartilhar “nossa aprendizagem das escolas feministas”.
“Para mim foi um evento bastante importante, de muita fortaleza, de relacionamento entre mulheres de diferentes países, de intercâmbio de experiências. Nos fortalecimos bastante, pudimos estrecharnos en abrazos, fue maravilloso”, descreve Bernarda Benítez Gudiño da Associação de Mulheres da província O’Connor (AMPRO) na Bolívia.
Nelly Alcaraz, da Equipe de Mulheres Campesinas do Movimento Campesino de Formosa (MOCAFOR) na Argentina, coincide com todos em que o evento deixou uma sensação de muita fortaleza para a unidade entre companheiras da América Latina.
Jenny Luján, que pertence à Asamblea pela Vida Chilecito e Mujeres Defensoras del Agüita del Famatina na Argentina, descreve o Encuentro como “uma poderosa possibilidade de tejer redes latino-americanas de resistência ao extrativismo, modelo de produção e desenvolvimento de morte, e construir espaços de intercâmbio de saberes que fortalecem as luchas territoriais. Um espaço amoroso, genuíno e potente com mirada e sensação de mulher”.
“O Encontro foi uma experiência sumamente enriquecedora, tanto pessoal quanto para minha organização, porque foi um espaço onde foi possível conhecer quais são as lutas que estão levando as diferentes companheiras em diferentes países da América Latina. Também é preciso saber que alguém está fazendo dentro de seu país, quais são as herramientas que estão usando as companheiras para seguir o trabalho das organizações, das comunidades. E foi uma experiência enriquecedora, volto a dizer, porque você das contas que não está sozinho, que também outras companheiras em outros países, em outras regiões, que têm realidades diferentes no que respeita às vezes ao meio ambiente, à zona, ao território, e têm os mesmos problemas e as muitas dificuldades. Às vezes também vemos que você está usando novas ferramentas, novas formas de lucha e isso nos serve para replicar em nossas zonas”, destaca Alba Osuna, integrante da Red de Mujeres de Pilar, Paraguai.
Por sua parte, María del Carmen García, da Escola para Defensores de Direitos Humanos e Ambientais Benita Galiana de Guadalajara, México, explica que o que aconteceu foi “a alegria de articulações nesta aliança de justiça contra a mudança climática. Conheça o trabalho de outras escolas que lutam contra os megaprojetos de morte, os monocultivos e as minas. Algo do que também me deixou é esta necessidade de continuar analisando e debatendo nossas posturas políticas anteriores aos Cumbres Internacionais e à situação geopolítica”, mas “aterrizar no próprio e não no ajeno, fazer maior consciência nesta aliança do que queremos fazer e que não nos jalen as olas internacionais”.
“O Encontro de defensoras ambientais me deixou muito conhecimento, experiências e ideias de outras companheiras que como elas lutaram para defender seus territórios, a Madre Tierra, elas têm sofrido para poder lograr seus objetivos. -conta a hondurenha Leylis Vijil, parte da União de Empresas do Setor Social da Economia Ambiental de Marcovia (UEDESAMAR)– Também podemos notar que temos o mesmo problema com as indústrias extrativistas. Devemos seguir unidos, lutando para ajudar nossos territórios”.
Por último, María de Jesús Jiménez, da Associação de Mulheres Indígenas em Santa María Xalapan, Guatemala, contou que para o evento “fue de mucho fruto”. Explica que “pudimos conhecer as diferentes luchas que temos nos territórios e compartilhar nossas experiências. É importante encontrar-nos entre defensores na América Latina para podermos apoiar nossas lutas e transmitir conhecimentos para os outros e para nós”.
A saída é coletiva
Todas as mulheres coincidem na importância de gerar espaços onde intercambiar as luchas e as ferramentas. Mas também “é muito importante encontrar-nos entre defensoras ambientais para sanar nossas heranças que se van haciendo neste dia a dia por defender nosso território, por defender a Madre Tierra e aquela fortaleza que vamos dar umas às outras”, descreve Marisol do Equador.
Lésbia, da Guatemala, disse: “Nós nos agarramos mais valor ao saber que somos muitos no mundo que defendemos nosso território, defendemos muitas companheiras e venir a ponerlo na prática em nossas organizações de base”. Além disso, você contou com a experiência em sua organização de base em seu território e compartilhou todas as ferramentas que aprendeu.
“O Encontro é a certeza de que as mulheres unidas estão confrontando e plantando alternativas concretas à crise climática, que essas propostas estão ancladas em uma história, em uma aquincia de luta contra diferentes projetos extrativos que nos serviram como experiência para poder identificar os responsáveis pela crise climática que estamos vivendo. Considere também que é muito importante seguir promovendo, impulsando e participando em espaços entre mulheres, sobre tudo na chave dos intercâmbios das estratégias de formação com base na educação popular feminista”, explica Carmen Aliaga, parte do coletivo de coordenação de ações socioambientais do Coletivo Casa na Bolívia, que por sua vez integra a Red Latinoamericana de Mujeres Defensoras de Direitos Sociais e Ambientais, que coordenam a Escola da Justiça Climática Feminista, que são companheiras de El Salvador, Guatemala, Honduras e Bolívia.
“Esses encontros são um gerador de energia, de muita energia positiva, muita boa vibração -descrever Alba- Se entablan amizades, relações de companheirismo. Relações sororas que são necessárias para seguir adiante, para que você se fortaleça no pessoal, mas também crie vínculos com as organizações. É muito importante porque aqui em adelante pode gerar uma sinergia, uma simbiose entre regiões. Às vezes nos contamos que conhecemos pequenas organizações de mulheres que estão trabalhando também nas mesmas coisas que nosotras”.
Hermógena Calderón, da Red Nacional de Mujeres en Defensa de la Madre Tierra (RENAMAT) da Bolívia, também se refere à importância do intercâmbio e do encontro, “para ter uma linha base de coordenação, para o apoio mútuo”. Afirma: “La Unión hace la Fuerza!”. Além disso, é fundamental reconhecer as comunidades inimigas. “Nossas lutas são contra o mesmo monstro que nos oprime, o patriarcado, o capitalismo e o colonialismo. Este é o sistema que nos despoja o diário de vida, nossa saúde e nossos bens comunitários. Nuestra fuerza sempre será a organização coletiva, juntas somos mais fortes”, afirma Carmen do México.
O Ibis Colindres de Fondo Tierra VIVA em Honduras, explica que “existe uma riqueza de soluções climáticas fantásticas para mulheres que estão contribuindo para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas na região da América Latina”. Nesse marco, exige: “É urgente que se cuente com o respaldo político e o apoio financeiro por parte dos tomadores de decisão em todos os países”.
Vozes urgentes da América Latina
“Somos amigos das consequências daqueles maus planejamentos, decisões e ações do Estado e das empresas extrativistas privadas. O calor global já não tem retrocesso, por tanto nosotras as mulheres rurais da América Latina, estamos na defesa de nossos espaços e de nossos territórios para conservar a vida em harmonia com a naturalidade, que também é mulher, e como dadoras de vida aportar a segurança alimentar e assim nos permitir a coexistência e a resiliência com a naturalidade y con esto asegurar la vida”, conta Marisol do Equador.
Diante da pergunta sobre o que é urgente que toda a América Latina e o Caribe se separem, as respostas são contundentes. As vozes se levantam, a força é incomparável.
Lésbia da Guatemala: “Temos que saber com urgência o impacto que está causando as agroindústrias, todas as empresas que estão causando danos. A mudança climática, isso é urgente, temos que saber todos os habitantes do mundo, inclusive”.
“Não só em Honduras as empresas estão perdendo a trajetória verde. Estamos lutando, mas sempre podemos um pouco como intimidados, porque a um le da miedo porque você vê o que passou aqui em Honduras, as mulheres são vítimas. Que se logre fazer algo para seguir a luta e fazer uma só voz, unir-se e gritar que estamos lutando por nossos territórios, nossas terras, nossos recursos porque ya não é bom quedarse chamado, hay que alzar la voz defensora entrea, entre mulheres luchadoras, latino-americanas que van um defensor de nossos territórios. Mulheres que são defensoras com dentes, unhas, tudo. Me sinto motivado, sempre com a emoção de que vamos fazer algo por nossos territórios, nossas terras”, diz Leylis.
Carmen de Bolivia, explica que “as mulheres campesinas e defensoras aprendem e transmitem conhecimentos de uma forma diferente, desde uma sabidúria milenar. Muitas vezes esta forma de gerar conhecimento foi deslegitimada pela educação formal, por isso apostamos em processos de educação popular, processos de educação feminista que acompanham a defesa do território. Acreditamos que é uma das condições fundamentais para que as mulheres fortaleçam suas lideranças femininas”.
Também da Bolívia, Hermógena fez um chamado: “É urgente unificar-nos para salvar a Madre Tierra. Nuestra Madre Tierra é tudo para nós, os Povos Indígenas Originários”. Por outro lado, “é super importante que a América Latina se levante e tome uma posição e uma posição de tudo o que lhe pertence, porque a história da América Latina é rica, é demasiado rica para que não possamos construir alternativas. Tenemos como mulheres, todo o poder de construir alternativas com base em nossos sonhos e nossos ideais, um mundo diferente, mais justo, solidário. Somente vamos a poder fazê-lo se as mulheres nos levantam e nos tomamos de la mano e nos acompanhamos nesta luta que nos pertence e nos fazemos parte umas de outras”, expressou Ruth Amarilla, que está acompanhando o processo do Comitê de Mulheres Kuña Aty de Tava Guaraní no Paraguai.
“Encontrar-se entre defensores é muito importante porque assim fazemos uma só voz para que o poder seja ouvido, porque uma única pessoa não pode fazer nada. Neste tempo que estamos vivendo, só o que fizemos é apartar-lo, e assim, fazendo frente a nós como defensores, podemos fazer muitas coisas”, conclui Leylis de Honduras.
Destes dois dias de trabalho, resumidos em todo o trabalho anterior na Escuela Feminista para a Ação Climática (EFAC), surgiu uma pronúncia construída coletivamente. Este documento foi levado à Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática 2022 (COP 27), como portador das vozes de todas estas mulheres e seus territórios.
Nesta linha, Mirna Rodríguez do Fondo Tierra VIVA, expressou: “O mais importante do Encontro é que hicimos o documento para a COP27. Para mim isso é muito importante, porque às vezes não tomamos como algo importante e o trabalho fica em vão. Então isso me motivou e a crença foi muito importante, porque além de trabalharmos aqui, ele se levantou onde se tinha que levar ao plantio. Creio que é realmente um avanço para nós, para que ouçamos nossas vozes, que se saiba o que enfrentamos dia a dia em nossos países. Que esse trabalho que fizemos e que estamos realizando, não se que foi plasmado sozinho em um papel, mas que se dé a conhecer antes de todos os meios, onde você tem que levar, às pessoas e às instâncias onde você tem que levar, isso é o mais importante”.