Comunicação e advocacia para a ação climática
Neste módulo, exploramos as ideias centrais em torno de COMUNICAÇÃO e ADVOCACIA para a ação climática, alcançando um impacto nos mecanismos de governança existentes e nos principais atores nos processos de tomada de decisão, relacionados aos objetivos de cada grupo de defensores ambientais.
OBJETIVO
Desenvolver capacidades de comunicação e advocacia para impactar os mecanismos de governança existentes e os principais atores nos processos de tomada de decisão relacionados aos objetivos dos grupos de defesa ambiental.
Introdução
Os direitos humanos são direitos inerentes a todas as pessoas, sem distinção de qualquer tipo, como raça, gênero, nacionalidade, origem étnica, idioma, religião ou qualquer outra condição. Esses direitos devem ser garantidos pelos Estados. Como mulheres e defensoras do meio ambiente, temos especificidades que os Estados devem considerar e que podemos exigir. A atual situação política, econômica e ambiental é tão complexa que não só nos obriga a exigir nossos direitos, mas também a evitar a perda de alguns deles.
O que é advocacy? Por que queremos causar impacto?
Compartilhamos algumas contribuições de colegas em nosso workshop em 04/12/21:
“Incidência é quando temos uma ação em um determinado espaço ou ação pelos direitos das mulheres, contra a violência, pela ação climática. Quando temos uma ação em algo específico e queremos influenciar exatamente para transformar, para ter melhores condições de vida.”
“Gosto da palavra influência porque sempre a interpretei como construir agendas com outros. Em outras palavras, influenciar, mas não cooptar ou totalizar em relação aos outros, mas sim ter sucesso na construção de algo que não pertence mais a um, mas a mais atores. Influenciar governos significa que os governos nos ouvem, em primeira instância, mas em segunda instância significa que temos um diálogo que cria uma agenda compartilhada. Influenciar outras organizações significa chamá-las para pensar em projetos juntas.”
Como mencionam os depoimentos, a advocacia política é um processo que pode ser realizado por organizações com o objetivo de influenciar políticas públicas, práticas, agendas políticas, decisões de alocação de recursos dentro dos sistemas políticos, econômicos, sociais e institucionais e, assim, nossos DIREITOS e gerar TRANSFORMAÇÕES.
Sempre dizemos que um dos nossos objetivos é participar da tomada de decisões, e mantemos isso em diferentes áreas, seja na organização, na comunidade ou na esfera pública.
Mas na prática constatamos que as instituições do Estado são tão fracas ou tão comprometidas com grupos econômicos influentes que, embora nossas propostas de estabelecimento ou reforma de políticas públicas, legislações, programas ou projetos sejam justas e necessárias, elas não conseguem nos dar respostas favoráveis ou não têm vontade de aceitá-las por considerarem que as iniciativas estão dentro de seu poder e conveniência.
“Muitas vezes, o ponto da advocacia política é fazer com que os governos implementem suas políticas com base nas necessidades das pessoas. A ideia de ter impacto político se refere à capacidade que temos de fazer com que os governos entendam as necessidades que as mulheres têm e incorporem isso em suas políticas, que devem ser baseadas nos desejos da população e não dos governantes. No Brasil, queremos ter impacto porque há cada vez mais diferenças entre as agendas políticas dos governantes e grupos econômicos — que são a seu favor e benefício — e as populações, que estão cada vez mais empobrecidas. Para nós, o significado da advocacia tem esse caráter. As políticas públicas nos pertencem.”
Essa situação é vivenciada não apenas em nível nacional, mas também em nível regional e municipal. Dadas estas circunstâncias, encontramo-nos na necessidade de levar a cabo processos de persuasão e mesmo de exigência para influenciar os decisores, de modo a conseguir a aceitação das suas propostas.
Propomos as seguintes perguntas para nos ajudar a pensar sobre os mecanismos de influência dentro de nossas organizações:
- O que é advocacy?
- Por que queremos causar impacto?
- Que problemas específicos em nossa comunidade queremos abordar?
- Quais atores queremos influenciar?
- Quais são nossos objetivos e estratégias de advocacy como organização?
Mecanismos de advocacy em diferentes países da América Latina: quais estratégias nossas organizações utilizam?
Abaixo compartilhamos depoimentos sobre os diferentes mecanismos de advocacy utilizados por organizações de mulheres defensoras do meio ambiente na América Latina:
Argentina
“Uma estratégia que usamos na Plurales é dar visibilidade às lutas que as mulheres estão enfrentando em seus territórios, aos conflitos que existem, seja fazendo declarações sobre as questões, publicando na web ou ações nas ruas.”
Brasil
“Nossa estratégia de advocacy é o trabalho de base e territorial em comunidades. A partir disso, podemos influenciar outros ambientes, espaços formais e informais.”
Bolívia
“É importante que nós, como mulheres, sejamos capazes de liderar, porque é onde podemos ter mais impacto. Seja no conselho do bairro, no conselho de pais ou no conselho escolar. Em qualquer lugar onde possamos fazer nossas vozes serem ouvidas, podemos influenciar políticas.”
El Salvador
“Nossa organização tem uma preocupação: queremos influenciar o município de Marcovia a se declarar ‘Zero Palha’ porque prejudica o meio ambiente e a tartaruga oliva. A estratégia que estamos usando é fazer um acordo com o prefeito para que ele possa nos ajudar e apoiar. Dessa forma, estamos buscando causar impacto.”
Equador
“Realmente é muito complicado influenciar políticas públicas com um Estado neoliberal que está destruindo direitos conquistados ao longo de muitos anos. O mesmo acontece com os direitos das mulheres, elas estão até sem financiamento. Mesmo que continuemos insistindo nas autoridades, essas são conquistas muito pequenas. Acho que o mais importante é a organização. É por meio dela que pode haver a possibilidade de influenciar. A política equatoriana tem muito pouca estrutura em políticas voltadas para as mulheres. Isso foi alcançado, mas é com a luta, a defesa dos territórios e a unidade com outras organizações dos setores populares.”
Comunicação: seu papel nos processos de advocacy
Para alcançar vontade política em favor das propostas, precisamos realizar ações devidamente planejadas que garantam influência efetiva sobre os tomadores de decisão. Essas ações geralmente incluem a conscientização da população em geral para criar uma opinião pública favorável às propostas de políticas públicas. Nesse sentido, a comunicação tem papel fundamental no planejamento de ações de advocacy.
A comunicação nos permite:
- Informar a população e promover o debate público sobre nossos problemas, demandas e propostas.
- Gerar influência sobre as pessoas que decidem as políticas públicas que nos afetam (vereadores, prefeitos, ministros, legisladores, etc.). Negociar e convencer os tomadores de decisão para que os pontos de vista e propostas dos grupos sociais sejam levados em consideração.
- Tornar-se uma voz de referência na tomada de decisões e garantir que nossas propostas sejam levadas em consideração na definição de políticas públicas. Articular esforços em torno de posições políticas e propostas de mudança dentro do grupo que promove um processo de advocacy.
- Chamado à ação para mudança.
2 dimensões da comunicação
Quando nos referimos à Comunicação, vale ressaltar que ela possui duas dimensões:
- Externo: da nossa organização para fora (governos, cidadãos, outras organizações).
- Interno: é o que ocorre dentro da nossa organização, junto com e entre os colegas. Às vezes pensamos muito em termos de comunicação externa e esquecemos da comunicação interna, quando esta é fundamental porque nos permite unificar nossas estratégias de luta, a ação que vamos realizar e gerar um sentimento de pertencimento ao grupo.
COMUNICAÇÃO COM PERSPECTIVA DE GÊNERO
CONFLITOS AMBIENTAIS GERAM IMPACTOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E POLÍTICOS.Como defensores, devemos colocar esses impactos na AGENDA PÚBLICA E DA MÍDIA da forma mais ABRANGENTE possível, como parte de suas tarefas de advocacy.É FUNDAMENTAL DESTACAR NAS MENSAGENS QUAL GÊNERO IMPACTA O PROJETO OU O PROBLEMA AMBIENTAL RELATADO CAUSA.
Perguntas para diagnosticar a situação de comunicação da sua organização
- Quais canais/estratégias de comunicação você usa agora?
- Você conseguiu ter um impacto além da sociedade civil em geral?
- Existe alguém responsável pela comunicação dentro da organização ou essa tarefa é realizada em conjunto?
- Você tem algum suporte profissional para comunicação?
- Com que frequência você usa ferramentas de comunicação?
Etapas para desenvolver um Plano de Comunicação
Para definir nossa estratégia e plano de comunicação para advocacy político, podemos identificar 3 momentos principais:
- Diagnóstico de comunicação para incidência
- Definição da estratégia e do plano de comunicação
- Implementação da estratégia, sustentabilidade ao longo do tempo e avaliação
1) DIAGNÓSTICO
Neste ponto devemos:
- Selecione nosso tópico ou problema de incidência.
- Identificar os atores sociais envolvidos (caracterização, papéis e ligação com o problema).
- Analisar a prioridade dos problemas de acordo com a estratégia política do processo de advocacy.
- Identificar os impactos que queremos alcançar.
2) DEFINIÇÃO DA ESTRATÉGIA E PLANO DE COMUNICAÇÃO
Neste ponto devemos:
- Definir objetivos de comunicação com base na mudança que queremos alcançar (tornar visível algo desconhecido, abrir um debate, convocar uma mobilização, etc.).
- Analisar possíveis formas de alcançá-los (definir os públicos-alvo e estimar os canais de comunicação para as mensagens).
- Planeje a comunicação: objetivos, atividades, conteúdo da mensagem, mídias e produtos, responsáveis, tempos e recursos disponíveis.
3) IMPLEMENTAÇÃO, SUSTENTABILIDADE E AVALIAÇÃO
Neste ponto devemos:
- Produzir os materiais e desenvolver as atividades que planejamos.
- Implementar o monitoramento e a sistematização das ações que realizamos e seus resultados.
- Avaliar e revisar se atingimos ou não as metas e quais mudanças devemos fazer para o nosso próximo plano, gerando insumos para um novo diagnóstico. Pensando em nosso:
- Conquistas
- Falhas
- Coisas que podemos melhorar
Intercambio de buenas prácticas
Vamos pensar…
- Quais estratégias de comunicação têm sido úteis em nossas organizações?
- Que conselho você gostaria de dar a outros colegas sobre comunicação?
Em primeiro lugar, a comunicação do incidente deve ser uma comunicação 3D:
- RELATÓRIO: Denunciar violações de direitos humanos e identificar os responsáveis
- DEMANDA: Exigir direitos
- DESEJO: Comunicar e promover propostas
Abaixo compartilhamos uma série de “boas práticas” que foram trocadas entre os colegas que participaram do nosso workshop.
“Nos últimos dois anos, usamos processos de formação como estratégia. E usamos as mídias sociais com nossas demandas, atividades, ações, como nossa campanha contra a violência contra as mulheres rurais. Essa tem sido uma experiência bem-sucedida para mim e para outras mulheres, mas não é fácil para nós, mulheres rurais, periféricas, negras…”
“Trabalhamos a comunicação como um direito da classe trabalhadora. E também é importante trazer à tona nossas identidades na comunicação: como camponesas, mulheres rurais… Eu diria que em vez de 3D, nossa comunicação deveria ser 4D, porque a comunicação deve ser direta, dialogando com o outro.”
“Nem todas as mulheres têm internet. Então, a comunicação face a face e o boca a boca são essenciais. Conversar umas com as outras sobre o que está acontecendo pessoalmente, já que não temos a possibilidade de estar conectadas.”
“Até o rádio, que é um meio muito usado em áreas rurais, está cortando programas e cobrando para as mulheres tocarem, mesmo em estações de rádio que eram populares. O que nos ajudou foi ter vídeos curtos e panfletos breves que falam sobre direitos das mulheres, direitos sexuais, reprodutivos e ambientais.”
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