
Encontro das Escolas (2024)
Entre os dias 16 e 18 de agosto foi realizado em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, o 2° Encontro Latinoamericano de Defensoras Ambientais para a Ação Climática. Foi organizado por Plurales, Coletivo CASA e Tierra Viva e participou de mais de 40 mulheres representantes de 30 organizações da Argentina, Bolívia, Brasil, Equador, Paraguai, Guatemala, Honduras, Nicarágua, México e El Salvador.
Este espaço se resume a fortalecer e impulsionar alianças entre as organizações de defesa do meio ambiente, campesinas, indígenas, afrodescendientes e urbanas marginalizadas da América Latina para levar ações coletivas adelantes na defesa dos territórios, compartilhar estratégias de incidência, visibilizar e fortalecer as iniciativas que levam adeptos pela justiça de gênero e justiça climática.
Marisol Angulo, membro da Red Ecuatoriana de Forestería Analoga (REFA), participou do encontro e contou que “nós nos parecemos com grande energia no momento de compartilhar experiências, de ouvir as companheiras que têm o mesmo problema. Podemos ter limites nos territórios onde vivemos em cada país, mas não há limites em nossos espaços como mulheres, onde nos desenvolvemos porque as necessidades são iguais, são idênticas. Aqui estamos nós encontrados e as ferramentas para seguir em nossos espaços a luta feminista frente à mudança climática”.
Por que nos encontraremos?
Na verdade, as desigualdades estruturais que afetam as mulheres camponesas, indígenas, afrodescendentes e urbanas empobrecidas se aprofundaram devido à crise climática, à crise econômica global, às medidas de ajuste tomadas pelos Estados da América Latina, ao aumento da concentração de poder do capital financeiro e ao avanço do extrativismo sobre os bens naturais, elementos que não fazem mais do que seguir sustentando, perpetuando e aprofundando o atual sistema capitalista.
As indústrias extrativas, de mineração, de petróleo, agronegócios, entre outras, prejudicam seriamente os bens naturais e trazem graves consequências para a saúde, a segurança alimentar, as atividades produtivas e a permanência nos territórios das mulheres, meninas e jovens. As inundações, sequelas e frequência de outros desastres naturais fizeram com que a crise climática fosse hoje mais do que nunca uma realidade, afetando seriamente e impactando de forma diferenciada a vida das comunidades campesinas e indígenas, mas principalmente das mulheres e meninas, que historicamente assumiam as tarefas de cuidado, reprodução e sustentação da vida.
Neste contexto, resume-se o desequilíbrio nas relações de poder em todas as comunidades, e em particular nas mulheres, que defendem suas terras, territórios e bens comunes, poniendo en riesgo hasta su propia vida, além de sustentá-la cotidianamente. As violências físicas, psicológicas, políticas, patrimoniais, sexuais e ambientais se multiplicaram dentro deste patriarcado com vários aspectos: religiosos, institucionais, estaduais, extrativos e até humanitários.
Ainda neste cenário adverso, as mulheres campesinas, indígenas, afrodescendientes e marginalizadas urbanas sustentaram a vontade de impulsionar articulações para desenvolver ações conjuntas de incidência, visibilidade e comunicação de problemas e suas iniciativas para enfrentá-las. As mulheres nos territórios estão construindo horizontes de justiça climática a partir da cosmovisão de seus povos e em sintonia com os modos de vida. Neste marco, o 2° Encontro Latinoamericano de Mulheres Defensoras Ambientais para a Ação Climática segue impulsando agendas climáticas feministas para a defesa dos territórios.
Assim como no 1° Encontro, foi realizado um pronunciamento construído coletivamente como portador das vozes de todas estas mulheres e seus territórios, e que imediatamente será compartilhado publicamente. Enquanto isso, você nos convida a ver a Pronúncia do 1° Encontro.
Clara Merino Serrano, do coletivo Luna Creciente do Equador, explica que “me parece que é um passo, mas nos toca super fuerte seguir criando unidades desde as mulheres dos territórios em épocas muy graves que vivimos de grandes retrocesos desde os sistemas capitalistas, patriarcais e coloniais contra nossos pueblos e sobre todo contra nósotras las mujeres”.
Para as miembras da Escola Feminista para a Ação Climática (EFAC), este encontro resultou em um passo importante para seguir o trabalho no processo de formação, fortalecimento e intercâmbio que iniciamos em 2021 com o surgimento da escola.
Mariela Melgar Ibáñez, representante do Coletivo de Mulheres do Chaco Americano, concluiu que “o desafio é grande, seguir com esta luta, a resistência, mas acompanhado. Articuladas com todas as mulheres que vimos neste Encontro e com todas as que não puderam vir”.
*Fotos: Angirü Bolivia